Animais e a ilusões de ótica: perceção visual de peixes e aves

Estudo sobre animais e a ilusão de ótica mostra que, nem sempre o que vemos é o que parece, isso não vale apenas para os humanos. Um recente estudo publicado na revista Frontiers in Psychology demonstrou que também os animais podem ser enganados por ilusões de ótica, revelando como diferentes espécies interpretam o mundo visual à sua volta.
O experimento: peixes e aves diante da ilusão de Ebbinghaus
A pesquisa, conduzida por uma equipa internacional de cientistas liderada pela bióloga comportamental Maria Santacà, da Universidade de Viena, testou duas espécies muito distintas: o peixe guppy (Poecilia reticulata) e a rolinha-diamante (Streptopelia risoria). O objetivo era simples — mas intrigante: descobrir se esses animais seriam “enganados” pela ilusão de Ebbinghaus, um famoso fenômeno visual em que um círculo parece maior ou menor dependendo do tamanho dos círculos ao seu redor.
Para adaptar o teste ao universo dos animais, os pesquisadores substituíram os círculos por alimentos. Os guppies receberam flocos de comida cercados por anéis de diferentes tamanhos, enquanto as rolinhas-diamante observaram sementes de painço dispostas no mesmo padrão.
O resultado? Os guppies foram claros em suas escolhas: preferiram sistematicamente os flocos rodeados por círculos menores — como se realmente parecessem maiores. Já as rolinhas-diamante mostraram um comportamento mais variado. Algumas seguiram o mesmo padrão dos guppies (e dos humanos), outras tiveram reações opostas, e muitas não demonstraram qualquer preferência visual.
O que isso revela sobre animais e a ilusão de ótica
Segundo Santacà, as ilusões óticas são mais do que simples truques visuais — são janelas que nos permitem observar como o cérebro interpreta a realidade.
“As ilusões não são apenas truques de visão — são uma janela para os mecanismos cerebrais que usamos para interpretar o mundo”, explica a pesquisadora.
Nos humanos, a ilusão de Ebbinghaus está associada a um processamento visual global, ou seja, à capacidade de interpretar o conjunto antes dos detalhes. Esse modo de percepção ajuda-nos a reconhecer padrões complexos, contextos e proporções.
Mas nem todas as espécies veem o mundo dessa forma. Os guppies, por exemplo, vivem em ambientes aquáticos densos e cheios de estímulos visuais — ribeiras tropicais, com plantas, sombras e reflexos. Nesses contextos, perceber o tamanho relativo rapidamente pode ser vital, seja para identificar parceiros ou escapar de predadores.
Já as rolinhas-diamante, aves terrestres que se alimentam de pequenas sementes, podem se beneficiar de uma visão mais detalhista e seletiva, focada no objeto e não no contexto ao redor. Isso explicaria a variabilidade observada em suas respostas ao teste.
Um retrato da diversidade cognitiva na natureza
A variação encontrada entre as rolas-diamante também chama atenção por outro motivo: mesmo dentro de uma mesma espécie, há indivíduos mais ou menos suscetíveis às ilusões.
“Tal como nos humanos, alguns animais são mais suscetíveis a ilusões do que outros”, observa Santacà. Essa diferença pode estar relacionada à experiência prévia, predisposições genéticas ou aprendizado individual, mostrando que a percepção não é um mecanismo fixo, mas uma construção moldada ao longo da vida.
Ilusões, evolução e o olhar sobre o mundo
Para a ciência, o estudo sobre animais e a de ilusão de ótica representa uma nova peça no vasto quebra-cabeça da cognição animal. Ele reforça a ideia de que a percepção visual evolui de acordo com as necessidades ecológicas de cada espécie.
As ilusões de ótica, nesse contexto, tornam-se uma poderosa ferramenta para investigar como diferentes cérebros veem o mesmo mundo de formas tão distintas — e como o que percebemos nem sempre é o que realmente existe.
“Estudar ilusões óticas em diferentes espécies ajuda-nos não só a perceber como os animais veem, mas também como a perceção evolui ao longo do tempo para enfrentar os desafios da vida na Terra”, conclui Santacà.
Um convite à reflexão no Museu das Ilusões
No Museu das Ilusões, acreditamos que compreender como o cérebro interpreta o mundo é uma das formas mais fascinantes de explorar a mente humana — e, como este estudo mostra, também a dos animais.
As ilusões desafiam os sentidos, despertam a curiosidade e revelam que a realidade é, muitas vezes, uma construção do nosso cérebro. Ver, portanto, é mais do que olhar: é decifrar.
Uma curiosidade:
A ilusão de Ebbinghaus foi descrita pela primeira vez no século XIX pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus. Até hoje, é usada em estudos de percepção, design e até em testes de usabilidade digital — mostrando que as ilusões visuais continuam a influenciar não apenas a ciência, mas também a arte e a tecnologia.
Fonte:
Santacà, M., et al. (2025). Frontiers in Psychology.
Estudo financiado pela Austrian Science Fund (FWF), através da bolsa ESPRIT (Grant DOI: 10.55776/ESP433).



